Eu conhecia Paulo Henriques Britto por seu trabalho tradutório. Sempre me pareceu bastante bom, mas foi só quando entrei na faculdade de Letras e comecei a estudar tradução que percebi que sua competência vai muito além disso: ele é uma das principais referencias em tradução no Brasil. E também é poeta.
Mas, quando li alguns de seus artigos a respeito de tradução, tive certo receio do que encontraria ao ler sua poesia. Ele possuiu um projeto tradutório bem estabelecido e bastante complexo – justamente por trabalhar com uma rigidez bastante grande. O meu medo era o modo como isso refletiria em seu fazer poético – é muito fácil a rigidez tomar aspectos rançosos na poesia.
Professores e colegas, no entanto, mais familiarizados com a obra de Britto tranquilizaram-me: ele utiliza formas tradicionais sem, no entanto, deixar de soar moderno. E resolvi começar a descobrir a poesia desse grande tradutor, justamente por seu livro mais recente: Formas do nada.
Realmente, existe certa rigidez: mesmo que em alguns casos utilize versos livres, em boa parte dos poemas ele lança mão de sílabas bem contadas, escolhendo as tônicas com cuidado. Chega mesmo a construir uma grande quantidade de sonetos. Apesar disso vai na contramão de todos os receios que eu pudesse ter, escrevendo uma poesia extremamente contemporânea – muitas vezes mais do que a de outros autores, que utilizam exclusivamente versos livres.
Um dos aspectos que é flagrantemente contemporâneo (pós-moderno?) é a metalinguagem que permeia não apenas cada poema individualmente (escreve, em “Lorem ipsum“, poema que abre o volume: ‘Tudo resulta apenas neste dístico/ Ninguém busca a dor, e sim seu oposto, / e todo consolo é metalinguístico.”), mas também no conjunto – existem alguns poemas em inglês, oportunamente chamados de auto-traduções e que são, como era de se esperar, traduções de poemas que foram lidos algumas páginas antes.
Apesar de importante, porém, a metalinguagem não me parece ser o ponto nevrálgico da obra. Ela é apenas um ponto de partida que é constantemente extrapolado. Pois, ao escrever versos sobre poesia e sobre o fazer poético, o autor está construindo toda uma visão de mundo calcada, justamente, no nada. Longe, porém, de estar imerso em niilismo, Paulo Henriques Britto aponta para uma falta de sentido, para uma falta de qualquer coisa essencial – que advém justamente da crença nesse niilismo.
Um belo ponto de partida para conhecer o Paulo Henriques Britto poeta, indo além de seus trabalhos como tradutor. Trabalhos, aliás, com o qual sua poesia está bastante afinada. O próximo passo, para mim, é procurar conhecer mais coisas desse que, como já ouvi falar, “é um dos poetas brasileiros vivos de maior importância hoje em dia”.
Formas do nada
de Paulo Henriques Britto.
80 páginas
R$ 32,00.
Saiba mais sobre essa e outras obras no site da Companhia das Letras
Bacana! Só conhecia o trabalho do P. H. Britto por conta de paraísos artificiais (nada a ver com o filme).
E que referência, né? O cara só traduziu Pynchon, Roth, Updike, Rushdie, DeLillo, Henry James, McEwan… Acho que todo mundo que faz faculdade de Letras com enfoque em Tradução sonha em querer ser como ele no futuro. 😀