Sendo parte da famosa Comédia humana, obra composta de 89 volumes de romances, contos e novelas, A mulher de trinta anos (1942) é dos romances mais conhecidos não só dessa grande obra, mas de toda a produção de Honoré de Balzac(1799-1850). Ainda que não seja considerada das melhores criações do autor por muitos críticos, é fato que esse romance repercutiu muito na cultura não só francesa bem como mundial. O texto demorou cerca de treze anos para ser escrito por completo, sendo lançado aos poucos e de maneira esparsa, em jornais. Essa demora talvez evidencie que o autor realmente quis se dedicar a ele entre tantas obras que produziu, sempre com o objetivo de se manter financeiramente.

Por ter chamado atenção para a mulher casada e não só para a jovem casamenteira dos autores românticos, Balzac também se mostrou um grande observador da figura feminina e de sua vida. Em A mulher de trinta anos, temos a história de uma mulher em sua evolução desde a juventude até a idade adulta, quando se torna uma “balzaquiana”, nossa denominação para uma mulher madura. Julie d’Aiglemont se casa com Victor d’Aiglemont, inicialmente coronel da cavalaria francesa, depois general. O casamento, inicialmente tão idealizado, mostra-se mais verdadeiro por todos os problemas pelos quais ela passa.

Victor é caracterizado, assim como muitas personagens masculinas de Balzac, como um ser medíocre, inferior à esposa, porém dominador da situação devido ao caráter sexista da sociedade da época. Esse domínio pôde, é claro, ser ignorado por Julie, que se apaixona pelo lorde Arthur Grenville, amigo do marido. Assim como o sofrimento das mulheres, o adultério é outro grande tema balzaquiano e também do romance burguês do século XIX. Entre paixões e mortes, Julie trai o marido, mas também sofre por seus filhos, dos quais é responsável pela criação e, de certa maneira, pelo destino de cada um. A balzaquiana personagem termina sua vida culpada apesar de tudo pela vida que viveu, sempre buscando fugir dos padrões da sociedade.

Julie é uma “mulher de trinta anos”, não a única como o artigo definido no título nos induz a pensar. Sua vida, quase toda retratada no romance, nos dá justamente um retrato da mulher da primeira metade do século XIX em sua complexidade. É notável pela crítica como Balzac, em uma sociedade em que as contestações feministas mal existiam, já buscava expor ao público leitor suas personagens femininas como exemplares da situação da mulher na França da época.

Note-se também que A mulher de trinta anos faz parte das chamadas “Cenas da vida privada”, coleção de obras da Comédia humana referentes ao mundo da família burguesa. Balzac, em uma época em que o ditado “em briga de casal não se mete a colher” valia acima de tudo, parece querer mostrar que a “vida privada” nunca é particular, própria de um caso específico. Julie é apenas um exemplo de “balzaquiana”. Seus problemas não são privados e são como os de muitas outras mulheres casadas. Diante de todos os acontecimentos históricos da narrativa, entre elas batalhas napoleônicas, percebe-se que a conturbada vida de Julie nos expõe de certo modo a falta de consistência na moral burguesa.