Em uma antiga e pacata aldeia em Israel, coisas acontecem. Mas não coisas espetaculares ou especiais, mas sim coisas banais, cotidianas: a vida das pessoas. E é esse espírito um tanto quanto simplista e bucólico que permeia ‘Cenas da Vida na Aldeia’, de Amós Oz.

Oz criou um cenário bastante crível, uma pequena aldeia em vias de modernização que fica a alguns kilômetros de Tel Aviv, e a povoou com personagens igualmente realistas, um adolescente tímido e infeliz atormentado por uma paixão platônica pela bibliotecária local, um casal que carrega a dor de um filho suicidado, um velho que lamenta o presente, uma médica solteirona e solitária que espera a visita do sobrinho, um corretor de imóveis que quer comprar uma antiga mansão e é confrontado pela filha do falecido dono, um aposentado que é visitado por um homem que se diz seu parente e tem objetivos não muito claros…

As histórias de cada um desses personagens são apresentadas de modo breve e em alguns momentos se cruzam, mas nenhuma delas chega a desenvolver-se de modo completo. Como diz o título do livro, Oz parece ter recortado algumas cenas escolhidas a dedo para apresentá-las ao leitor, passando em seguida para outra e depois outra cena, dando-nos apenas um breve vislumbre de uma realidade que aparenta ser muito maior e mais profunda, mas a qual não podemos ter mais acesso.

Leitores acostumados a histórias com começo, meio e fim, com histórias que se concluem e que se fecham, podem não gostar do livro. Mas é inegável o gênio do israelense ao dar vida à pequena aldeia de Tel Ilan. Cada capítulo nos mostra um pedaço da vida ali, e, ao final, estamos afeiçoados e quase que acostumados com a vida nesse lugarejo pequenino e quase esquecido.

Oz nos lembra que a realidade não é estática e nem focal, e nem depende de nós. Ela, afinal, continua em outro lugar, em outro tempo, depois do fim do livro- e já estava lá antes.

“CENAS DA VIDA NA ALDEIA”

Autor: Amós Oz

Tradução: Paulo Geiger

Editora: Companhia das Letras

Páginas: 184

Preço sugerido: R$ 38

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