No Japão Imperial do entre guerras, dominado por um pensamento militarista e de extrema direita somos apresentados a Kochan, um jovem um tanto quanto peculiar que, entre outras coisas, afirmava lembrar-se do dia em que nasceu- no que era logo repreendido ou simplesmente desconsiderado pelos adultos.
Kochan é o nome que o escritor japonês Yukio Mishima dá ao protagonista de seu primeiro romance, Confissões de uma Máscara- personagem que é ele mesmo. Lançado em 1949 o livro começa com o nascimento do protagonista e vai até o ano de seu lançamento, passando pela guerra e pelas bombas atômicas.
Esse período histórico por si só já seria algo bastante interessante, mas à medida em que vamos conhecendo algumas coisas sobre Kochan a história se torna ainda mais curiosa: o garoto sempre foi bastante frágil, sendo escondido e protegido por seus pais e, por isso, não conviveu com outros garotos de sua idade, tornando-se uma espécie de pária.
E essa sensação o perseguiria por muito tempo, especialmente quando o jovem começasse a descobrir sua sexualidade- nunca interessara-se por garotas, seu primeiro interesse foi o corpo musculoso de seu colega Omi. Força-se, no entanto, a sentir-se atraído por Sonoko, a irmã de seu melhor amigo, achando que isso o tornaria como todos os outros rapazes que conhecia.
Sentindo-se oprimido por uma série de valores da sociedade, Kochan convence-se de que não poderia nunca demonstrar o que sentia e pensava realmente. É forçado, por toda a vida, a usar uma máscara que o faça ser aceito pelo mundo- e especula que talvez todos o façam.
O livro é de uma suavidade ímpar, apesar de por vezes existirem momentos de grande tensão ou mesmo em que se sobressai um elemento do grotesco e de o protagonista ser um tanto quanto violento e sádico, apesar de sua aparente fragilidade. A escrita é simples e lembra, muitas vezes, uma confissão oral.
Confissões de uma Máscara talvez seja o mais importante dos livros de Mishima, pois Kochan é o próprio autor e, já em sua juventude, pode-se ver aquilo que ele tornaria-se mais tarde, podendo-se, talvez, ter um vislumbre do teor de suas obras que viriam mais tarde- e mesmo do fim de sua vida, quando tenta tomar o poder no Japão com seu partido facista mas, ignorado pelos militares, falha e comete seppuku.
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Confissões de uma Máscara
de Yukio Mishima
Traduzido por Jaqueline Nabeta
200 páginas
R$ 49,50
Saiba mais sobre essa e outras obras no site da Companhia das Letras
Achei engraçada a tag “bildungsroman” pro Confissões, Luci. Sim, é um termo que já se limitou ao romance alemão, mas que hoje é usado além, mas ainda assim parece engraçado isso pra um japonês. Enfim, foco.
Gosto muito desse livro. Acho que é justamente pelo tom oral da confissão, o que faz com que o leitor se aproxime do narrador.