Saul Bellow (1915-2005), judeu canadense naturalizado estado-unidense, foi um dos nomes mais importantes da literatura norte-americana do século XX, em especial no pós-guerra. Para se ter uma idéia de como sua obra foi influente, ele recebeu o prêmio Nobel de Literatura e o Pulitzer de Ficção em 1976, , a National Medal of Arts em 1988, além de ter sido o único autor que recebeu o National Book Award 3 vezes (em 1954, 1965 e 1971) e o único a ser indicado 6 vezes para esse prêmio.

Apesar disse reconhecimento, a literatura de Bellow ainda hoje causa controvérsia: apesar dos prêmios recebidos e de alguns, como Martin Amis, o descreverem como ‘o maior autor americano de todos os tempos’, outros, como Vladimir Nabokov, diziam que ele buscava ressuscitar a novela européia do século XIX, além de ser ‘miseravelmente medíocre’.

Presença de Mulher, de 1997, foi de seus últimos livros e, mesmo não sendo uma de suas obras mais emblemáticas: ao mesmo tempo em que possui elementos bastante contemporâneos em seu tema, seu estilo e sua retórica são eminentemente ligados aos autores modernos, de modo quiçá um tanto estéril.

Nessa obra, Bellow nos narra a história de Harry Trellman, um homem bastante perspicaz e inteligente, talvez até demais- o que fez que, desde pequeno, ele estivesse à parte. Trellman acaba de voltar de uma viagem ao oriente, e encontra-se para jantar com Sigmund Adletsky.

Adletsky é um homem já velho, ‘exilado pelo tempo’, como nos diz Bellow pelas boca de Trellman, acostumado ao poder mas que sente certa dificuldade em acompanhar a passagem dos anos e as mudanças cada vez mais velozes.

Outra personagem central na novela é Amy Wustrin, paixão da juventude de Trellman- que, depois de ‘cinquenta anos de sentimento investido, de fantasia, de especulação, de absorção e de conversação imaginária’, ainda é alvo de suas pretensões.

E é justamente o velho Adletsky- a princípio desinteressado em questões sentimentais- que consegue ler o íntimo de Trellman e resolve assumir para si a tarefa de unir os dois, de fazer com que esse anseio da juventude de seu amigo torne-se realidade.

O livro foi escrito com Bellow já passado dos oitenta anos, e demonstra toda sua maturidade. Refletindo sobre o tempo- melhor ainda, sobre a velhice- e sobre a importância do amor, Presença de Mulher pode não ser considerada uma das maiores obras do autor, mas sem dúvida é amostra válida de sua prosa, em que tanto suas qualidades quanto seus defeitos estão bastante aparentes.

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