Esperando Godot, do irlandês Samuel Beckett é, provavelmente, uma das obras mais universais do século XX. Mesmo quem não leu e até mesmo muitas das pessoas que não fazem a menor ideia de quem foi Beckett conseguem fazer uma associação com a história dos dois homens que esperam um terceiro- que nunca vem.
Foi sua primeira peça publicada após a II Guerra Mundial, e uma das responsáveis por catapultar sua fama internacional- já era razoavelmente conhecido em sua Irlanda e na França, seu exílio auto-imposto e que ajudou a defender durante a guerra. E o momento de sua publicação é essencial para a obra: em uma Europa destruída pela guerra, na Europa que permitiu que algo como Auschwitz acontecesse, em um mundo agora mais dividido do que nunca entre Ocidente e Oriente, não eram apenas dois homens que esperavam por algo que não sabiam o que era e que nunca chegaria. Beckett traduziu a ânsia da humanidade naquele momento.
A história não é exatamente complexa. Dois amigos, Vladimir e Estragon esperam por um homem chamado Godot- que eles admitem que não reconheceriam se vissem. Enquanto esperam eles conversam, brigam, jogam, dormem, comem e até mesmo pensam em se matar.
Eventualmente encontram com Pozzo e Lucky: o primeiro um aristocrata bem alinhado, porém cruel; o segundo seu escravo fiel e devotado. Eles encontram com Vladimir e Estragon duas vezes, na segunda Pozzo está cego.
Godot, no entanto, nunca chega. Isso tem gerado, desde que a peça foi publicada, muita especulação- Godot poderia ser Deus, a morte, o futuro ou até mesmo Pozzo. Beckett ofereceu uma única pista- que talvez se trate mais de uma brincadeira do que qualquer outra coisa: godillot é uma gíria francesa para bota- e os pés são um elemento sempre presente na obra.
Independentemente de quem ou o quê é Godot, essa é uma das obras mais influentes de um dos autores mais influentes do século XX. Sem Beckett e sem Godot talvez a pós-modernidade não fosse o que é- estaríamos, de qualquer modo, esperando, porém ignorantes desse fato.
Esperando Godot
de Samuel Beckett, tradução de Fábio de Souza Andrade
R$ 66,00
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essa peça é a coisa mais linda desse mundo. o mais engraçado é que a primeira vez que li uns trechos dela eu ainda comentei com minha amiga “que negócio idiota, se o cara tá com dor no pé que tire logo o sapato”. depois na faculdade reli, e aí a peça me disse tanto que até hoje eu coloco fácil nas minhas obras favoritas de todos os tempos.
Se Godot é qualquer coisa, eu que sou Deus.
Tem referências claras a Deus, Jesus, juízo final e outros conceitos bíblicos, provavelmente de linha protestante aos quais eu não estou muito familiarizado. Embora pode ser que Pozzo possa ser Godot também, sendo assim, deus poderia ser, ou ser também, aquilo que Pozzo representa, ou Lucky. Nenhuma crítica ou resenha de Godot poderá ignorar tentar interpretar Pozzo, Lucky e Godot mais exatamente, em sugestões, mais ou menos indefinidas. Indefinição sendo diferente de não tentar dizer nada. Certo o que a peça nos provoca, mas porquê? É um enigma que torna Becket ainda muito mais genial, porquanto não temos coragem nem mesmo para tentar. Ao menos não em português, ou não na NET. Não tentei ainda traduzir críticas mais longas em língua inglesa ou francesa.
Também sou descendente de judeus, e daí? De espanhois, italianos, indígenas… Irlandês, não.
Em comum com você, igualmente não compreendi a peça, não obstante ela me tenha tocado.
Ah, sim, penso também que uma interpretação adequado esteja associada a termos simples, como você disse, a peça “não é exatamente complexa”. Não, não é. Ou melhor, é, mesmo que não pareça. Do mesmo modo deve ser sua chave.
Abs!