Lord of the Flies, ou O Senhor das Moscas nas edições traduzidas, é um clássico inconteste do escritor britânico e Nobel de Literatura William Golding. Duas vezes adaptado para o cinema, o livro sustenta a máxima de Golding, que, após lutar na Segunda Guerra Mundial, concluiu que a maldade é intrínseca ao ser humano, e que a produzimos do mesmo modo que as abelhas produzem o mel.

Para isso, conta a história de um grupo de garotos que, após um acidente aéreo, acaba preso em uma ilha deserta sem nenhum adulto por perto. Logo unem-se e formam uma sociedade um tanto quanto primitiva, mas que ainda conta com resquícios civilizatórios: o inteligentíssimo gordinho asmático e míope, Piggy, sugere que se vote para escolher um líder, que acaba sendo Ralph, o mais velho dos meninos, a despeito de Jack Merridew, o impetuoso e feroz chefe dos garotos que, outrora, constituíam um coral.

A frágil união começa a se desfazer lentamente com a discordância entre manter uma fogueira acesa  no alto de uma montanha a qualquer custo – para que os navios vissem a fumaça e os resgatassem – ou abandonar a tarefa em nome da busca por carne. Tudo piora quando surgem boatos de que um monstro espreita durante a noite.

Com as diferenças entre Ralph e Jack crescendo, além de dúvidas, medo e violência pairando no ar, a frágil civilização infantil se desfaz, e parte deles passa a viver separadamente, como selvagens. Jack os ofereceu, afinal, aquilo que é mais fácil, encorajando suas piores qualidades – à moda de qualquer déspota que se preze – e criando consequências irrevogáveis.

Golding é dono de uma prosa poderosa, que prende o leitor e o faz ansiar por saber o que irá acontecer no capítulo seguinte, utilizando um inglês elegante, mas sem ser enfeitado demais.

Mas o grande trunfo de Golding é a capacidade que a obra tem de tornar-se universal, podendo ser lida em analogia com inúmeros momentos históricos e ideários. Provavelmente é essa versatilidade – mas que não perde o foco – que deu ao livro a penetrância cultural que ela tem até hoje, mais de meio século depois de ser escrito.

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