Elias Canetti foi um dos escritores mais influentes do século XX. Judeu sefardita de origem Búlgara, cuja língua materna era o ladino, bastante cedo – aos 8 anos de idade – tornou-se um emigrante, tendo sua família se estabelecido em Viena. Adotou, portanto, a língua alemã – e, apesar de ter vivido também na Inglaterra, foi no idioma de Goethe que escreveu.

Essa brevíssima história já pode acenar para um dos temas centrais da obra de Canetti, uma espécie de tensão linguística, um conflito entre a palavra e todo o resto da vida de um homem. É mais ou menos essa a tônica de A consciência das palavras.

Trata-se de uma coletânea de ensaios, todos orbitando ao redor da relação das pessoas com as palavras. Mas essas pessoas são sempre aqueles que mais devem à língua, e aos quais ela mais deve: os escritores. Canetti discorre – com erudição e sensibilidade extraordinárias – sobre como a escrita (e não somente a literatura) modifica a vida daquele que a realiza, tanto durante o curso dos fatos, quanto posteriormente.

Escreve, assim, a respeito de poetas, de diários, de cartas, de romances e até mesmo de agendas e calendários. Tudo o que seja escrito e que permita alguma espécie de controle sobre si mesmo lhe interessa.

Franz Kafka, Georg Büchner, Lev Tolstoy, Karl Krauss, Herman Broch são alguns daqueles sobre os quais fala. Não são, porém, os únicos: Canetti não se limita ao cânone literário europeu, e chega a fugir totalmente desse universo ao falar sobre Albert Speer, arquiteto chefe de Hitler, sobre Confúncio e sobre um médico sobrevivente de Hiroshima.

Por vezes é possível notar algo de terrível na relação de Canetti (e na de seus objetos) com a escrita. Ela realiza uma espécie de coação desinteressada, que não segue interesse algum, mas que deixa marcas profundas. Ao mesmo tempo, porém, a escrita é tudo aquilo que resta de um homem, seja para si mesmo, seja para o mundo.

A consciência das palavras (edição de bolso)

de Elias Canetti

tradução de Márcio Suzuki e Herbert Caro.

328 páginas

R$ 25,00

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