A Sérvia é um pais considerado ‘exótico’ e até ‘misterioso’ aqui no Brasil. A galeria de nomes sérvios que chega até nós é relativamente curta: o infame Slobodan Milosevic e, com sorte, Danilo Kis. Com sorte as pessoas se lembrem da Guerra dos Balcãs, nos anos 1990, ou de Kosovo. Sarajevo – que é na Bósnia – pode ser uma alusão vaga ao país.

Ao menos no que tange a literatura, porém, a culpa certamente é da pequena quantidade de publicações. O já citado Danilo Kis, Milorad Pavic e Ivo Andric são quase a totalidade dos autores sérvios publicados por aqui.

Existe, porém, uma coleção da editora da Universidade de Brasília, chamada Poetas do Mundo, na qual foram publicados alguns volumes curtos e bilíngues de poesia. Um destes, “Bosque da maldição”, possui poemas do sérvio Miodrag Pávlovitch – além de um excelente estudo introdutório pelo tradutor, Aleksandar Jovanovic.

Pavlovich é um dos mais importantes poetas sérvios do século XX. Conjuga influências diversas sem, no entanto, copiá-las. Ao mesmo tempo em que dialoga com uma rica tradição poética – especialmente sérvia, mas eslava de modo geral – ele consegue ser original.

Sua poesia é relativamente leve e musical, mas é sombria. Seu pessimismo é marcante e, ao lê-lo, a catástrofe parece iminente.  Utilizando de versos livres e, por vezes, descartando a rima, Pávlovitch utiliza a sátira ao mesmo tempo em que fala de tragédias – pessoais ou históricas – e faz todo o turbilhão balcânico parecer meramente inevitável. E, no entanto, seu poemas ainda tem força universal.

Vale mencionar ainda a qualidade da tradução de Jovanovic. Se o português e o sérvio são idiomas bastante distantes, muito pouco se perdeu na passagem dos poemas de uma língua a outra. O ritmo e a escolha de palavras manteve-se bastante adequado, oferecendo uma boa mostra do que é Pávlovitch.