Conhecido por seus romances, o escritor lajeano radicado em Curitiba Cristóvão Tezza publicou recentemente “Beatriz”, seu segundo volume de contos – depois que um enorme hiato, em que se dedicou exclusivamente ao romance. Que começa com um prefácio: uma espécie mista de confissão e explicação, já que parece não sentir-se confortável com essa literatura mais breve. Explica que percebe não aproveitar bem as personagens, criadas sempre com certa dificuldade.
O resultado, no entanto, não é mau. Eu diria até que fica bastante próximo dos romances, com as mesmas qualidades e os mesmos defeitos. Talvez ajude o fato de ser uma mesma personagem, Beatriz, o centro de quase todos os contos – exceto pelo que abre o livro, onde ela é mera coadjuvante.
São sete contos, e em cada um deles acontece basicamente o encontro de Beatriz, revisora e professora particular de português, jovem e divorciada, com um personagem diferente, em situações diferentes.
Sempre, no entanto, existe um elemento que torna o encontro um tanto estranho, como se para torná-lo digno de ser contado. Em Aula de reforço, ela é contratada por uma mãe super-protetora e com segundas intenções para dar aulas de português para um adolescente; em Beatriz e a velha senhora ela acaba por escutar a confissão de um crime; em Um dia ruim ela é contratada para revisar um trabalho de cunho racista escrito por um velho, que acaba morrendo quando ela chega na casa dele.
Com isso já se pode ter uma ideia do inusitado de algumas situações. Os sentimentos despertados também se alternam, sendo que se as vezes as coisas parecem muito engraçadas, em outras tudo é muito terrível. Outras vezes, como em O homem tatuado, há um lirismo sutil, que empresta uma espécie de alegria melancólica ao conto.
O grande defeito de Beatriz é o mesmo grande defeito de toda a obra de Tezza: parece existir uma crença de que a literatura é uma espécie de virtude e que aqueles que vivem às voltas com os livros, especialmente aqueles que os escrevem, são melhores do que os outros. Isso é algo que considero particularmente incômodo – e que é o que impede que eu tenha um melhor conceito da obra do ex-professor da UFPR.
Beatriz
de Cristóvão Tezza
144 páginas
R$ 34,90
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Isso é só uma das coisas que me irrita nas pessoas que tanto falam de O filho eterno. Vi uma apresentação inteira na oficina de Narrativas sobre o livro, em que mostraram que, por trás do verniz do cara cínico que odiava o filho com síndrome de Down, havia um bom homem. O final feliz com algo relacionado a futebol. O poema, que ele não tinha dado bola antes, mas depois ele percebe que era supersignificativo (depois que o leram em sala — e, pior, se atreveram a comprovar como tudo aquilo era especial na vida do autor/narrador –, a única impressão que ficou foi “E não é que o cara tava certo antes? Esse poema é uma porcaria! Pura!”). Chegaram a musicar e ampliar o poema, for fuck’s sake.
Me falaram para ler “Trapo” primeiro. Acho que farei isso.
Eu não tenho reclamações sobre o Tezza, gosto do estilo dele e sinceramente nunca me chamou a atenção essa relação com os que vivem com livros. Fiquei curiosa sobre esse livro porque a Beatriz dos contos é a mesma de Um Erro Emocional, romance que achei muito bom (arrisco a dizer que até melhor que O Filho Eterno).
Eu tenho a impressão de que, ao menos desde O Filho Eterno – e só posso falar a partir dO Filho Eterno, pois foi aí que comecei a ler Tezza – e especialmente nos dois últimos romances, há uma preocupação em desenvolver a narrativa muito maior que qualquer juízo de valor sobre os personagens.
O desenvolvimento das vozes dos personagens e do narrador me parece uma preocupação latente nas duas últimas empreitadas dele, e é isso que me parece mais característico e digno de nota em suas obras.
Gostaria de ler Critovão Tezza, por curiosidade, segundo aqueles que leram alguma de duas obras, há uma ideia de que há um ponto de confluência de perfis de uma só personagem. Sei lá, é o que dizem. Mas se qualquer forma quero ler dois deles ” Umm Erro Emocional e “Beatriz para
tirar dúvidas.