Conhecido por seus romances, o escritor lajeano radicado em Curitiba Cristóvão Tezza publicou recentemente “Beatriz”, seu segundo volume de contos – depois que um enorme hiato, em que se dedicou exclusivamente ao romance. Que começa com um prefácio: uma espécie mista de confissão e explicação, já que parece não sentir-se confortável com essa literatura mais breve. Explica que percebe não aproveitar bem as  personagens, criadas sempre com certa dificuldade.

O resultado, no entanto, não é mau. Eu diria até que fica bastante próximo dos romances, com as mesmas qualidades e os mesmos defeitos. Talvez ajude o fato de ser uma mesma personagem, Beatriz, o centro de quase todos os contos – exceto pelo que abre o livro, onde ela é mera coadjuvante.

São sete contos, e em cada um deles acontece basicamente o encontro de Beatriz, revisora e professora particular de português, jovem e divorciada, com um personagem diferente, em situações diferentes.

Sempre, no entanto, existe um elemento que torna o encontro um tanto estranho, como se para torná-lo digno de ser contado. Em Aula de reforço, ela é contratada por uma mãe super-protetora e com segundas intenções para dar aulas de português para um adolescente; em Beatriz e a velha senhora ela acaba por escutar a confissão de um crime; em Um dia ruim ela é contratada para revisar um trabalho de cunho racista escrito por um velho, que acaba morrendo quando ela chega na casa dele.

Com isso já se pode ter uma ideia do inusitado de algumas situações. Os sentimentos despertados também se alternam, sendo que se as vezes as coisas parecem muito engraçadas, em outras tudo é muito terrível. Outras vezes, como em O homem tatuado, há um lirismo sutil, que empresta uma espécie de alegria melancólica ao conto.

O grande defeito de Beatriz é o mesmo grande defeito de toda a obra de Tezza: parece existir uma crença de que a literatura é uma espécie de virtude e que aqueles que vivem às voltas com os livros, especialmente aqueles que os escrevem, são melhores do que os outros. Isso é algo que considero particularmente incômodo – e que é o que impede que eu tenha um melhor conceito da obra do ex-professor da UFPR.

Beatriz

de Cristóvão Tezza

144 páginas

R$ 34,90

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