Por mais mazelas que a sociedade russa do começo do século XX tivesse, é louvável a participação feminina não só na Revolução, como também na literatura – mesmo nos casos contrarrevolucionários. Alguns dos maiores nomes da poesia russa no século XX são femininos: é o caso de Anna Akhmatova e de Marina Tsvetaeva.

Tsvetaeva nasceu em 1892, três anos depois de Akhmatova. Filha de um professor universitário de artes, Ivan Vladmirovich Tsvetaev, e de uma pianista de origem germano-polonesa, Maria Alexandrovna Meyn, Marina cresceu em um ambiente materialmente confortável e culturalmente rico. Com isso ela identificava-se profundamente com a aristocracia polonesa. Casou-se em 1912 com Serguei Yakovlevich Efron, com quem teve três filhos: Ariadna (1912), Irina (1917) e Georgy (1924).

Apesar do nome e da riqueza do início de sua vida, nem tudo foram flores na vida de Tsvetaevna: Irina viria a morrer em Moscou, durante a grande fome que se seguiu à Revolução e mais tarde, vivendo na Tchecoslováquia, viveria em penúria.

Outro aspecto que marcou a vida da poeta foram seus casos amorosos: apesar do profundo afeto que nutria pelo esposo, apaixonou-se diversas vezes. Entre seus amantes incluem-se Ossip Mandelstan e Sofia Parnok, além de um longo romance platônico com Boris Pasternak.

Em 1939 não aguentou mais o exílio, iniciado em 1922, e retornou à URSS. No mesmo ano Serguei e Ariadna foram presos.  Com o início da Segunda Guerra Mundial, ela e Georgy (a quem Marina chamava carinhosamente de “Mur”) foram evacuados para Yelabuga. Sem o marido e a filha, isolada dos outros escritores  (que foram evacuados para Chistopol) e sem possibilidades de sustento, enforcou-se em 31 de agosto de 1941, deixando um bilhete em que declarava seu amor ao marido e aos filhos, mas afirmando que caíra em uma armadilha e que seguir em frente seria pior.

Sua poesia era proeminentemente lírica, marcada pela musicalidade e pela objetividade, deixando pouco espaço para ambivalências. Mesmo em seus poucos poemas narrativos e em sua prosa pode-se perceber uma voz lírica oculta (ou nem tão oculta assim). Foi, certamente, uma das mais poderosas vozes da literatura russa do século XX, fato atestado por ter, desde seu primeiro livro, publicado em 1910, atraído a admiração de uma grande quantidade de críticos e poetas, tanto da Rússia quanto de outros países.